Os fundamentos da mensuração psicológica: Entenda o que ela tem a ver com o RH

Os fundamentos da mensuração psicológica: Entenda o que ela tem a ver com o RH

Sabemos que basta uma régua para medir o comprimento de um objeto ou uma balança para saber o peso deste mesmo objeto. Mas se o “objeto” for uma pessoa e quisermos saber o quão inteligente ela é? Ou talvez qual a magnitude de suas crenças? A psicometria, por meio da Teoria da Variável Latente, nos mostra em quais cenários é possível desenvolver medidas objetivas para esses construtos. Se você não sabe o que é psicometria, leia o primeiro texto dessa série.

 

…psicometria?

Em poucas palavras, a psicometria é a área de estudo que investiga os procedimentos necessários para se mensurar características psicológicas (também podendo ser nomeadas como variáveis subjetivas), como a inteligência, as atitudes, a personalidade, soft skills, transtornos de personalidade, clima e cultura organizacional, entre outros. A Teoria da Variável Latente (ou TVL) é a principal teoria utilizada para fundamentar a prática psicométrica.

No primeiro texto dessa série, listamos dois pressupostos da TVL.

  • Primeiro pressuposto: é possível mensurar variáveis subjetivas, mas com um erro atrelado. Ou seja, não é possível ter certeza, com apenas uma mensuração, qual a magnitude de uma variável subjetiva. 
  • Segundo pressuposto: Por outro lado, caso sejam feitas várias medidas, a certeza sobre a magnitude da variável subjetiva aumenta. Esses dois pressupostos são discutidos em mais detalhes em textos que falam sobre a Teoria Clássica dos Testes (TCT), a qual fundamenta, matematicamente, os dois pressupostos (se quiser conhecer mais sobre a TCT, sugerimos a leitura do livro “Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação” de Luiz Pasquali)

No entanto, vale ressaltar que pesquisadores em psicometria identificaram que a TVL poderia ser estendida. Mais especificamente, os pesquisadores perceberam que esses dois pressupostos eram, na verdade, consequências de um pressuposto ainda mais básico: as respostas a testes e questionários bem construídos são influenciadas por algum processo mental não observado.

Esse processo mental não observado geralmente é nomeado como “variável latente”.

 

O que é variável latente?

Uma variável latente no contexto da mensuração psicológica é qualquer característica inerente aos indivíduos que, ao menos a princípio, muda de indivíduo para indivíduo. 

Por exemplo, a inteligência é considerada como uma variável latente, dado que ela determina a capacidade dos indivíduos em responder corretamente as questões de um teste de inteligência. 

Os cinco grandes fatores da personalidade são também variáveis latentes, dado que eles determinam como as pessoas se percebem e respondem a instrumentos de personalidade. Assim, de forma geral, pode se dizer que a psicometria é baseada no pressuposto, ou crença, de que existe algo que, mesmo sendo não observado, causa o comportamento dos indivíduos quando estes respondem a instrumentos psicológicos.

O pressuposto da existência de uma variável latente tem como duas de suas consequências os outros dois pressupostos que haviam sido apresentados inicialmente. Isso significa que é possível mensurar uma variável latente com menos erros sempre que houver mais itens ou questões em um questionário ou teste psicológico. 

No entanto, além da quantidade de itens, é necessário que os itens também representem bem o traço latente que se deseja mensurar. Por exemplo, se o que se deseja mensurar é a inteligência de um indivíduo, não faz sentido incluir um item que pergunta a esse indivíduo o quanto ele gosta de comer frutas. Isso ocorre porque, ao menos a princípio, o quanto um indivíduo gosta de comer frutas não tem nada a ver com sua inteligência (embora seja mais saudável incluir frutas em sua dieta 😊). 

Como uma ciência quantitativa, a psicometria utiliza duas abordagens principais para saber o quão bem um conjunto de itens se relaciona a uma mesma variável latente: a teoria do traço comum; e a teoria de resposta ao item.

 

Teoria do traço comum

A teoria do traço comum originou o que se conhece como análise fatorial. O principal objetivo da análise fatorial é identificar o quão fortemente um conjunto de itens em um teste ou questionário se relaciona com uma variável latente.

Assim, ao realizar uma análise fatorial, um pesquisador ou usuário da psicometria saberá o quanto cada item do seu teste ou questionário está relacionado com aquela característica que se deseja mensurar. 

 

Teoria da resposta ao item

A teoria de resposta ao item (conhecida mais popularmente como TRI), por outro lado, busca providenciar informações mais específicas sobre o impacto de cada item utilizado em um teste ou questionário. Por exemplo, caso seja criada uma prova de conhecimentos, a TRI permite concluir quais itens seriam mais fáceis e quais itens seriam mais difíceis de se responder. 

Além disso, a TRI também permitiria avaliar qual conjunto desses itens provê as melhores medidas para um grupo heterogêneo de indivíduos; ou seja, um mesmo teste ser capaz de avaliar tanto pessoas com baixo conhecimento quanto pessoas com alto conhecimento sobre um tema específico. Justifica-se, assim, o porquê de avaliações educacionais em larga-escala, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), utilizarem a TRI para a construção e avaliação das provas.

 

Mas atenção…

Finalizamos esse texto salientando que apesar de haver teorias e métodos analíticos para se avaliar a qualidade de testes e questionários psicológicos, a tarefa de construção desses instrumentos é bastante árdua. 

Por esta razão, psicometristas têm desenvolvido diversos procedimentos e diretrizes para que seja possível construir instrumentos de mensuração que forneçam o máximo possível de garantias de qualidade, para além das análises de dados citadas anteriormente (ou seja, a análise fatorial e a TRI). 

Alguns desses procedimentos e diretrizes estão formalizados em manuais específicos da área, enquanto outros estão espalhados em artigos e livros sobre o tema. De qualquer forma, todos esses procedimentos e diretrizes estão relacionados ao que se conhece como validade e fidedignidade das medidas. Isso é, no entanto, tópico para outro texto.

 

 

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