Existem muitas críticas às Inteligências Artificiais em processos de recrutamento e seleção. Todas bem vindas. Mas os vieses humanos, que também mereceriam críticas, muitas vezes não são detectáveis para serem criticados. Deveriam.
Em 2018, eu fui chamado por uma empresa devido aos testes da Rankdone. Segundo o presidente desta empresa, os testes de Excel estavam errados. O time conferiu e não estavam errados. Fui lá pessoalmente para entender o problema. Chegando lá entendi o problema. O presidente da empresa não aceitava que uma moça que morava na Zona Leste da capital tivesse nota melhor que um jovem que cursou uma universidade de renome. A moça não tinha cursado universidade de primeira linha. Essa história não é inventada para dar força nesse texto. Ela aconteceu e me mostrou uma realidade que eu já desconfiava. Nesta empresa os clientes faziam pressão para que os consultores fossem formados em faculdades de primeira linha. Quem é culpado por esse viés?
A moça nunca foi contratada e jamais soube desse problema. O RH não tem culpa pois não tem como o RH simplesmente não acatar a decisão.
Mas fica o questionamento: Quantos vieses desse tipo ocorrem no mercado brasileiro e não são por Inteligência Artificial, desclassificando bons candidatos? Quantos RHs são obrigados a fazer uma seleção apenas de um tipo de candidato, desclassificando vários outros tipos, que se fosse aberto numa IA muita gente acabaria descobrindo com cruzamento de informações? A culpa não é do RH.
Os ATS (Applicant Tracking Systems - Sistemas de Rastreamento de Candidatos), que são os softwares de Recrutamento e Seleção de mercado, nasceram nos anos 90 mas só começaram a se popularizar com as redes sociais. Hoje um RH que não usa um ATS perde muito controle dos candidatos para sua vaga.
Antes dos ATS no Brasil, os RHs ficavam com pilhas de currículos sobre as mesas ou nas suas caixas postal de correios eletrônicos. Por mais falhas que um ATS possa ter e sempre existem melhorias a serem feitas, se tem uma coisa boa que os ATS fizeram foi justamente organizar a vida do RH e do candidato. Hoje, pelo menos o candidato tem certeza que alguém ou algum robô não deixará de “ler” o seu “currículo”. Antes, não existia nenhuma garantia.
Em 2019 implementamos na Rankdone um Machine Learning (uma pequena parte de Inteligência Artificial) para pontuar redação digital em semântica, ortografia e fuga ao tema. Demos o nome dessa solução na Rankdone de RIA (Rankdone Inteligência Artificial).
Para testá-la em público, em 2020 criamos o desafio do próprio tema de Redação do ENEM de 2018 - “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, que foi tema no ENEM 2018.” . Para comparar a nota dada pela RIA aos competidores contratamos uma profissional que pontuava as redações na mão. Comparamos as pontuações com a RIA (Rankdone Inteligência Artificial) e a diferença foi apenas de 0.06% nas melhores redações. Nenhuma redação ruim a RIA considerou boa, e nenhuma redação boa pela profissional, a RIA não considerou boa também. A vencedora de um Kindle (prêmio para a melhor redação que demos na época) foi a Clara Vitória. Você pode conferir uma entrevista com ela e a redação que ela escreveu aqui.
Após a implementação da pontuação da Redação decidimos criar uma forma da RIA criar questões sobre algum assunto. Apesar de hoje já termos o maior banco de testes do mercado, muitas vezes o cliente pode tentar buscar um teste e ele não existir no Banco. É aí que entra a RIA para criar testes. Não apenas conseguimos fazer isso como ela cria testes de qualquer assunto de qualquer vaga. Claro que os testes precisam de uma revisão do gerente mas ele já sai pronto com as alternativas. Isso nos trouxe inúmeras possibilidades. Hoje podemos afirmar que nosso banco de questões é infinito devido à Inteligência Artificial da RIA.
Depois que implementamos tudo isso e eu vi os resultados, eu comecei a estudar mais IA como hobby. Até onde consigo entender, ela vai mudar completamente o mundo que vivemos. De maneira profunda. Mas é preciso cuidado e para isso, recomendo fortemente o livro “Human Compatible” de Stuart J. Russell. Ele aponta de uma maneira espetacular o problema do Controle, que pode vir em um outro artigo.
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